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Entrevista

O personagem é um experimento do Espírito?

Izolda Vieira

O nosso entrevistado, Luiz Carlos Farias, é Engenheiro Eletrônico, Psicanalista Clínico, Palestrante Espírita, estudioso na área de pesquisas sobre a Reencarnação, trabalhador da Pós-graduação da ULE – Universidade Livre do Espírito, no campo das pesquisas e revisão bibliográfica na temática Reencarnação; razão pela qual vamos conversar com ele.
Revista: Luiz, a reencarnação é hoje um fato pesquisado cientificamente e comprovado? Desta forma, podemos afirmar que somos seres de continuidade?
Luiz Carlos: Sim, a reencarnação é um tema de pesquisa cientifica já há algumas décadas. Desde 1950, na universidade da Virginia, o prof. Dr. Stevenson iniciou tais pesquisas, sendo considerado pioneiro nessa temática. Hoje o assunto avançou na academia em muitos outros países e inclusive aqui no Brasil. Contudo, mesmo tendo o foco científico na pesquisa e na produção de artigos, as conclusões apenas apontam a algo possível, mas não comprovado. Um bom exemplo, é uma publicação do Livro do Prof. Ian Stevenson: “20 casos sugestivos de reencarnação”. Nesta obra, o autor mostra casos de lembranças espontânea em crianças, revelando informações referentes a vidas passadas. Ele buscou a comprovação dos fatos estruturando uma pesquisa que aponta a veracidade das informações lembradas pelas crianças. Sendo assim, dando continuidade à sua pergunta quanto a podermos afirmar se somos seres de continuidade, dentro desse critério da sistematização cientifica não é possível, mas podemos sim, afirmar isso, baseados na experiência mediúnica, na bibliografia espírita e no contexto filosófico da questão.
Revista: Embora presenciemos atualmente uma ampliação da consciência humana para os fenômenos espirituais, ainda predomina uma fronteira no campo da ciência para o avanço de estudos sobre a Reencarnação?
Luiz Carlos: Sim, concordo que realmente haja algo crescente em relação às questões de espiritualidade na população mundial. Especificamente quanto à ideia da Reencarnação. Vejo que ela invade de alguma forma o pensamento humano de tal forma que, em alguns casos mesmo, até pessoas, de religiões que não creem na reencarnação como algo possível, mencionam o fato de serem de tal ou qual forma numa encarnação passada. O que traz realmente a ideia de que isso está crescendo no consciente coletivo geral. Mas, vejo isso como algo favorável ao campo de estudos, e até das pesquisas de um modo geral. A fronteira referida nesse caso, penso estar na forma, no método científico atual que exige a reprodução do fenômeno em laboratório, o que não é possível nesse caso.

Revista: É sabido que o esquecimento de vidas passadas é necessário como uma forma de preservar a pessoa que está reencarnada, contudo se o espírito traz consigo tendências e predisposições, este esquecimento seria parcial?
Luiz Carlos: Bem, poderíamos responder a essa pergunta por dois aspectos diferentes. Num primeiro, o biológico, o espírito reencarnante não tem acesso as lembranças do passado por estas não estarem disponíveis na sua memória cortical nesta encarnação. Mesmo assim a interferência do modelo organizador biológico função perispiritual, não anula totalmente as habilidades adquiridas pelo espírito em vidas passadas. Assim também, poderíamos explicar num segundo aspecto trazido no modelo religioso, mas com implicações psíquicas. O esquecimento do passado tem como função permitir ao reencarnante um recomeço, dando-lhe novas possibilidades de convivência e oportunidade de refazer relações que no passado foram mal estabelecidas. As duas formas não se contradizem e até são complementares ao entendimento do fato, em ambas o aprendizado realizado através das experiências vividas pelo espírito, não se dissipam totalmente na formação do novo personagem. Por exemplo uma pessoa que teve vivencias nas artes, dança/música, certamente será aquela que mais facilmente desenvolverá funções nesta área. Então, em relação as tendências e predisposições mencionadas na sua pergunta, sim estarão presentes na nova psique como “herança” de outras vidas, mas isso não se configura como uma lembrança. O esquecimento do passado, salvo algumas raras exceções, é total. As tendências e predisposições se relacionam com as habilidades e com os aprendizados pretéritos que capacitam o espírito a novas experiencias de aquisição de maior complexidade na nova encarnação.
Revista: A cada reencarnação o Espírito forja um novo ser; seria então o personagem um experimento do Espírito?
Luiz Carlos: Se você está considerando o novo SER, sendo o a combinação do espírito preexistente e o novo personagem formado por ele na nova encarnação, sim. A cada encarnação o Espírito forja um novo ser. Mas eu não entendo o personagem como um experimento para o espírito e, sim, como um instrumento de interação da singularidade que é o espírito com a sua manifestação nas dimensões da matéria. Este personagem é o produto da experiência vividas nas encarnações passadas, e o possibilita, como dissemos nas respostas anteriores, a aumentar complexidade de habilidades através das experiências na vida de relação material.
Revista: Apenas a Doutrina Espírita aborda a questão da reencarnação?
Luiz Carlos: De forma alguma! A ideia da reencarnação é encontrada desde a antiguidade, entre os grandes filósofos e em vários povos da história. Encontramos também, na atualidade, em filosofias religiosas tidas como reencarnacionistas, tais como o Hinduísmo e o Budismo. Outra ideia reencarnacionista é a metempsicose que traz como possibilidade de o espírito, depois de uma encarnação humana, poder se manifestar em corpos animais e até vegetais. Uma diferença relevante a esta ideia, está no fato evolucionista que apenas o espiritismo agrega ao fenômeno, ou seja: uma vez que o princípio espiritual atinja a capacidade e complexidade de animar corpos humanos, este não retroagiria a condição de animar corpos animais.

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