Rogério Lacerda
“Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. Essa célebre frase, por muitos atribuída a Allan Kardec, nos convida ao contínuo movimento da evolução. Ora, já sabemos que somos seres espirituais, criados simples e ignorantes, como muito bem disseram os Espíritos a Allan Kardec e, certamente, temos um longo caminho a percorrer até nos tornarmos seres puros, elevados ou perfeitos, apesar de eu atribuir a perfeição somente a Deus.
Dito isso, é justo e compreensível que busquemos ferramentas de apoio que possam nos dar um suporte extra nessa longa caminhada, através das inúmeras encarnações. Além de nos reconhecermos como seres imortais, já aprendemos que o autoconhecimento é fundamental nesse processo, bem como a tão comentada reforma íntima é também um compromisso inadiável se quisermos nos tornar seres em franca evolução.
No entanto, gostaria de ressaltar o contato com a dimensão espiritual como sendo uma excelente ferramenta que também pode impulsionar o nosso processo evolutivo. Vejamos as razões. Em primeiro lugar, precisamos entender que a comunicação ou intercâmbio com outras dimensões é absolutamente possível e se trata de uma capacidade ou habilidade do espírito. Não representa, portanto, uma condição especial destinada a alguns poucos escolhidos por Deus.
A conexão com a dimensão espiritual deve ser naturalizada e entendida como uma real possibilidade que está ao alcance de todo ser humano. Ademais, essa conexão precisa, certamente, ser despida de conceitos e ideias equivocadas que a cercam e a acompanham ao longo dos tempos, como, por exemplo, o misticismo e o medo criados ao redor do fenômeno mediúnico; a supervalorização do contato com espíritos, como se todos eles fossem seres angelicais, divinos, capazes de curas milagrosas e premonições espetaculares; ou o desconhecimento, quando muitos tratam os espíritos como demônios que devem ser escorraçados e exorcizados, tal qual fizeram em outras épocas do passado, como na Inquisição.
Em resumo, trata-se de um fenômeno de intercâmbio entre pessoas, ainda que estejam habitando dimensões diferentes. Devem prevalecer o respeito, a alteridade e o desejo de crescimento mútuo. Obviamente, temos muito a aprender com espíritos que estejam em estágios evolutivos mais avançados, ao mesmo tempo que, creio, podemos ensiná-los alguns truques, caso essa troca seja realizada de maneira ampla, afinal de contas o ser humano é um ser integral, complexo, que se desenvolve em várias dimensões da vida. Portanto, podemos ser alunos em umas e professor em outras.
A comunicação com espíritos que estão em outras dimensões amplia a nossa capacidade de percepção da realidade em que vivemos, torna-nos seres mais sensíveis à existência de outros mundos e outras possibilidades, bem como nos encoraja a conhecer ainda mais a riqueza de se viver como espírito imortal, transcendendo a nossa condição material e limitante, à qual estamos submetidos quando encarnados.
Comunicar-se com espíritos desencarnados pode ainda representar uma oportunidade singular de parceria verdadeira, construtiva e benéfica aos participantes, vez que entendemos que podemos aprender e ensinar uns aos outros, seja lá qual for a dimensão na qual habitamos. Mas, para isso, faz-se necessário que as relações estabelecidas sejam de igualdade entre as partes. É preciso que haja respeito e entendimento mútuos, tornando a parceria genuína, capaz de produzir frutos que serão aproveitados por ambas as partes.
Precisamos entender, de uma vez por todas, que não há necessidade de sacralização do fenômeno mediúnico, como também não há necessidade de nos colocarmos numa posição de inferioridade, considerando os espíritos desencarnados seres absolutamente superiores. A proposta deve ser a de servir e ser servido ao mesmo tempo, ajudar e ser ajudado, e, dessa maneira, estaremos realmente potencializando a nossa capacidade de comunicação e intercâmbio com a dimensão espiritual, transformando-a em uma verdadeira ferramenta de crescimento espiritual.