Idelfonso Bessa
Parte 1: O Cientista
Ao longo do último ano, realizamos um trabalho de pesquisa a respeito da visão geral dos estudos científicos que abordam a hipótese da reencarnação. Foi encontrado um total de 164 trabalhos que continham as palavras “Reencarnação” e “Vida” no título, resumo ou lista de palavras-chave. Esses artigos foram publicados entre os anos de 1966 e 2022.
Dois principais grupos temáticos são destacados pela análise dos metadados. Um grupo de trabalhos que aborda o tema a partir das perspectivas social, psicológica e teosófica. E outro que aborda o tema de um ponto de vista pragmático, coletando dados e confrontando-os com a hipótese. Enquanto o primeiro grupo tem um maior fator de impacto na literatura, o segundo grupo apresenta os autores mais proeminentes nessa área de estudo. A revisão bibliográfica também demonstrou um aumento na atenção dada, pela literatura, ao estudo desse tema, e aponta a associação entre reencarnação e política e história como um tema emergente.
Expandindo a discussão, o primeiro grupo temático, que analisa a reencarnação sob as perspectivas social, psicológica e teosófica, traz à tona reflexões complexas sobre como a crença na reencarnação se encaixa na estrutura social e na psicologia humana, e como os princípios teosóficos podem ser aplicados para interpretar os relatos de reencarnação. Esses estudos exploram como a crença na reencarnação pode influenciar o comportamento e as atitudes sociais, bem como a saúde mental e o bem-estar emocional dos indivíduos.
Por outro lado, o segundo grupo temático adota uma abordagem mais pragmática, utilizando dados empíricos para investigar a hipótese da reencarnação. Esses estudos buscam evidências objetivas de casos de reencarnação, com um enfoque em experiências de quase morte, lembranças de vidas passadas e outros fenômenos relacionados.
A tendência de crescimento no interesse acadêmico pela reencarnação é um sinal encorajador de que a pesquisa, nesse campo, está ganhando reconhecimento e validade. Além disso, o surgimento de temas de política e história em relação à reencarnação sugere uma expansão do campo de estudo, incorporando uma análise mais ampla de como a crença na reencarnação se relaciona com a estrutura política e histórica das sociedades.
Parte 2: O pseudofilósofo?
Ao tecer o texto anterior, a perspectiva filosófica inevitavelmente permeou a mentalidade científica. Nietzsche afirmou que um filósofo, para ser respeitado, deve ensinar através do exemplo. Embora não almeje ser um filósofo, vejo-me filosofando sobre o tema e, a pergunta que dá início a essa segunda parte do texto, me provoca uma incômoda reflexão. Parece-me justo compartilhar um pouco dessa inquietação com o leitor. Talvez, ao receber suas reações, eu consiga vislumbrar um maior entendimento dessa questão.
Camus, em seu ensaio sobre o absurdo, argumenta que, no exame da vida, é quase irrelevante questionar quem orbita quem – a Terra ou o Sol. De uma forma ou de outra, a Terra seguirá sua órbita, assim como nossas vidas persistirão. Embora o valor prático desse conhecimento seja incontestável, a análise das questões mais profundas da existência exige uma abordagem diferente, uma perspectiva mais introspectiva e contemplativa. Dostoiévski, hoje reverenciado como um dos grandes luminares da literatura e filosofia modernas, esteve uma vez diante da execução, apenas para ter sua sentença suspensa no último momento. O que passa pela mente de uma pessoa que caminha à beira da morte e, de repente, é libertada? A resposta a esta questão pode parecer de pouco interesse quando analisamos nossas vidas cotidianas. No entanto, as obras criadas por Dostoiévski revelam um entendimento profundamente perspicaz da natureza absurda e enigmática da existência humana.
A morte, com sua finalidade implacável, nos marca de maneira indelével, tanto quanto a imortalidade. Ambas são faces da mesma moeda da existência – um lembrete da efemeridade da vida e, ao mesmo tempo, um vislumbre da eternidade.
E, agora, você pode se perguntar: “o que essas reflexões nebulosas realmente significam depois de um texto científico e lógico?”. Talvez elas representem nossa natureza paradoxal. Podemos ser lógicos e racionalizar questões e temas, mas a lógica sem um valor intrínseco é uma lógica fria e sem sentido. Por outro lado, a emoção desprovida de raciocínio pode levar a conflitos intermináveis. O grande desafio humano talvez seja conciliar sua natureza paradoxal através das experiências de vida. Usando a linguagem de Camus, sentir o paradoxo é viver o absurdo e dar um sentido a ele – um sentido consciente e escolhido. Se nos apegarmos em demasia a um dos polos do paradoxo que somos, negaremos e relegaremos o outro.
O que estou tentando transmitir com este texto? Que a reencarnação é uma hipótese significativa, mas representa apenas um lado do paradoxo que somos. A mortalidade é incontestável, somos seres finitos –e este é o outro lado do paradoxo. O autor que escreve este texto inevitavelmente morrerá, pois, esse personagem é transitório e efêmero. Algo que o transcende irá sobreviver, se transmutar e se recriar. Esse, sim, é um ser imortal. Buscar a reencarnação sem a consciência da mortalidade é como um filósofo que ignora suas ações e empreende uma jornada vaga.
Deixo, então, uma última provocação: se sou um espírito imortal, sou uma figura mortal. O que fazer diante disso?