Autora: Jeísa Crusoé
Você já se viu lamentando a sua vida? Reclamando? Qual seria a verdadeira razão do descontentamento? Será que não teria algum estigma a sustentar este sentimento? É certo que a Vida está sempre lançando desafios a todo ser humano. Em vez de evitá-los ou desejar puerilmente ser salvo por algum agente externo, que tal enfrentá-los, superando as fragilidades do ego do personagem?
O personagem é uma face do Espírito, um instrumento arquitetado por ele, para interagir com o mundo, aprendendo o máximo e o melhor para a compreensão de si mesmo. O diálogo entre o Espírito e o personagem possibilita uma visão mais ampliada dos seus verdadeiros propósitos, e, portanto, uma adequação dos rumos para atender ao anseio do Espírito.
Nisto reside o seu processo de individuação, o seu “tornar-se quem se é”. Individuar-se é sempre um vir a ser, em que você constantemente vai atualizando-se, naquilo que você é, naquilo em que a sua história te leva. E a sua história contém marcas, fortes impressões daquelas experiências mais significativas, que ficam registradas em seu psiquismo e lhe imprimem características próprias – são os estigmas.
Reconhecer os estigmas é um caminho importante nesse seu processo de individuar-se, na medida em que proporciona uma aproximação do ego com o Si-mesmo, do personagem com o Espírito.
Voltemos à nossa questão. Será que o desafio que a Vida lançou é o verdadeiro motivo do seu estado de descontentamento? Você já parou para pensar que pode haver algo em você que você não aceita? E que isto pode ser a usina geradora da sua impaciência, vitimização, reclamações e descontentamento? Você pode estar vivendo sob a égide de um estigma e nem se dá conta…
Os estigmas alteram a personalidade e apontam para algo que necessita de algum tipo de equilíbrio nas suas relações. Adenáuer Novaes, no livro Estigmas Segundo a Psicologia do Espírito, traz alguns exemplos, dentre os quais, destaco: abandono materno ou paterno, corpo fora dos padrões de beleza coletiva, obesidade, gagueira, doenças graves, ser filho único, etc.
Vejamos o que acontece no caso das doenças graves. Nesta condição, a ideia da morte ganha espaço na consciência da pessoa – o ego do personagem sabe que está chegando ao fim e este será o tema central do seu estigma.
Os sentimentos de medo, raiva, pesar e até o cansaço pela situação são evidenciados num luto antecipatório, fase que pode fazer vir à tona efeitos de vários outros estigmas. Aqui, há a oportunidade para uma construção de significado e possibilidade de elaboração das perdas e da própria vida. A pessoa é “convidada” à transcendência a partir da compreensão da sua vida espiritual.
O desejado é que se tenha a consciência e aceitação do seu estigma, ou seja, que internalize a sua condição. O personagem que percebe a si mesmo e simultaneamente ao Espírito que se é, conduz melhor essa experiência, integrando a habilidade que necessita, sob o olhar da imortalidade que lhe confere.
A pessoa estigmatizada deve acolher seus estigmas, como alavanca em seu processo de individuação, na medida em que estes podem lhe proporcionar a sua “diferenciação” do coletivo, condição inerente ao processo de individualização. Você não é igual a ninguém!