Autor: Fernando Santos
O processo de crescimento do ser na existência humana se faz no ambiente de enfrentamento, e irrupções inconscientes podem acender à consciência e promover transtornos de comportamento que podem resultar em patologias mentais, e nesse sentido podemos ter as reações mais diversas possíveis, não existindo uma linha precisa que separe o normal do anormal, onde podemos estar longes da média e não estarmos “perturbados”.
A mente permanece na base de todos os fenômenos mediúnicos, logo o mediúnico está em intrínseca relação com o construto mental do indivíduo. Muitos inter-relacionavam mediunidade e transtornos mentais, mas Kardec já havia questionado aos espíritos se a mediunidade poderia desenvolver a loucura, e eles responderam que não, desde que não haja predisposição para isso. E os estudos científicos não comprovam a existência de uma relação direta de causa e efeito entre mediunidade e transtornos mentais.
Todos somos médiuns em maior ou menor grau. Na experiência mediúnica o indivíduo ouve vozes, vê pessoas, vivência fatos relacionados a “realidade espiritual”, e a ciência interpreta estas experiências como alucinações, e vivências dissociativas. Contudo a compreensão da “vivência” dissociativa perpassa pela integração da neurobiologia e fenomenologia, e deve ser vista como um construto dimensional, ou seja, é vivenciada em maior ou menor grau por todas as pessoas indo de um extremo saudável até outro extremo patológico.
Influências espirituais relacionadas às experiências de vidas passadas podem estabelecer transtornos mentais, contudo o trabalho mediúnico não é causa de transtorno mental, mas sim uma possibilidade de tratamento, existindo instituições que associam o tratamento espiritual ao tratamento psiquiátrico com bons resultados.
Algumas características distinguem claramente as experiências espirituais vivenciadas pelo médium dos transtornos mentais de conteúdo religioso, sendo elas: haver uma atitude crítica sobre a realidade objetiva da experiência, ocorrerem na ausência de sofrimento psicológico, de prejuízos sociais e ocupacionais, a experiência tem uma duração curta, ocorre episodicamente, é uma experiência controlada, e gera crescimento pessoal para si e para os outros, e há compatibilidade da experiência com um grupo cultural ou religioso. Esta compatibilidade da experiência mediúnica com um grupo cultural ou religioso foi demonstrada pela antropologia e levou a mediunidade a ser aceita fora do espectro de doença, mas como elemento natural de uma cultura. Ser o médium não é ser portador de um transtorno psíquico.