Autor: Eduardo Dantas
Prestemos atenção ao “E” que separa os dois nomes do título do livro de 112 páginas lançado em 2016 pela Editora da Fundação Lar Harmonia. Por esse conector, Adenáuer Novaes propõe uma ligação que, mesmo de soma, pressupõe a diferenciação de dois elementos que figuram em nosso imaginário de maneira quase que indissociável. Com esse procedimento, o próprio título da obra já anuncia e enuncia que é possível operarmos uma certa distinção: há Jesus, há o Cristo, sujeitos diferentes, embora, evidentemente, com determinadas semelhanças. O Cristo é o modelo mitificado, inacessível, protótipo de uma perfeição dificilmente possível. Jesus, no entanto, é uma pessoa: ele é judeu, humano, controverso, irreverente, apaixonante.
Pela leitura da obra, nós vamos entrando, pouco a pouco, em um raciocínio que pretende reconhecer a “personalidade exuberante de Jesus”, muitas vezes, ofuscada pelo excessivo olhar para uma divindade fabricada a partir de certas percepções e em nome de certos interesses, o Cristo. Com isso, não se pretende negar a função importantíssima dessa divinização, mas chamar a atenção para toda a riqueza que se amplia quando dilatamos o olhar para a humanidade de Jesus, com sua alta sabedoria e propostas de autotransformação.
O livro se divide em alguns pontos de reflexão: “A humanidade de Jesus”, “Jesus divino”, “O Evangelho”, “Religiões e o Evangelho”, “Jesus e o Espiritismo”, “Reflexões”. Todos esses pontos de reflexão são tempos de parada, de respiração, de uma leitura que se integra à subjetividade do leitor, pelo confronto dos modelos e imagens que estão arquivadas em sua percepção, tensionando esses modelos e imagens com as propostas que o livro faz.
Destacadamente, o capítulo que trata sobre a humanidade de Jesus merece uma atenção bastante especial, porque aí estão lançados alguns dos fundamentos mais essenciais para a percepção da diferenciação que, em todo o livro, busca-se fazer.
Na página 17, por exemplo, encontramos uma provocação que se mostra como básica para o entendimento da proposta do autor: “Enquanto o Cristo dita uma doutrina para todos indistintamente, Jesus oferece, para cada Espírito, a possibilidade de autoperceber sua diferenciação do coletivo para o encontro consigo mesmo, razão de sua existência”. Eis, então, uma boa chave de leitura para entrarmos no livro e sustentarmos nossa presença nele – ou sua presença em nós: a proposta de Jesus é de uma diferenciação, de um encontro do sujeito consigo, de uma busca pela autodeterminação.
Por esse processo, a amizade que criarmos com ele vai nos impulsionando ao encontro com o que somos, com o que temos, por seu convite amoroso a que deixemos a nossa luz brilhar. O autodeterminado Jesus se mostra, assim, como companheiro entusiasmado da jornada que estamos trilhando a partir, em torno e com destino a nós.
Como suplemento a tantas outras leituras, a obra se mostra, então, como um convite provocador a que, por Jesus, cheguemos também à nossa autodeterminação. Por isso, ela figura em nossa estante neste número. Você, amigo leitor, é nosso convidado a se transformar pela leitura desse importante texto e, mais que isso, a compartilhar também aqui a sua percepção. Vamos dialogar?