Autora: Aline D’Eça
“A literatura, como toda a arte, é uma confissão de que a vida não basta”, escreveu um dos principais poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa. Nessa perspectiva, o que há além da vida que é essencial para a arte?
A arte, como os sonhos, nasce no mistério. É expressão do que escapa à consciência. Símbolo vivo do que ainda devemos conhecer. Via de acesso às fontes profundas da vida e do que a ela transcende. Para o artista, a arte é imersão e emersão no Si mesmo (Self). É catarse de emoções, sensações e sentimentos. É também um chamado (a vocação). Para o fruidor, a arte é um veículo de inúmeras possibilidades: da mera assimilação pelos órgãos dos sentidos a uma experiência estética (oportunidade de expansão da subjetividade e ampliação da consciência).
Carl Gustav Jung, precursor da psicologia analítica, em sua obra ‘O espírito na arte e na ciência’, assevera que a obra de arte também tem um significado social: “ela trabalha continuamente na educação do espírito da época, pois traz à tona aquelas formas das quais a época mais necessita”. Para ele, as tendências da arte – como aconteceu com o romantismo, o realismo e o helenismo – trazem à tona “aquilo que a atmosfera espiritual mais necessitava” naquele período.
A arte e os artistas são promotores de mudanças na cultura. Eles quebram paradigmas, inovam, transgridem e, finalmente, transformam. O poder transformador da arte favoreceu revoluções no curso da história da humanidade. A arte, por si só, é livre e é libertária.
De igual modo, a arte é um processo educativo para o Espírito. Ao mesmo tempo que revela a intimidade do ser, o fazer artístico permite que o artista entre em contato com a sua divindade. Convergindo a sua capacidade criativa e sua essência divina, que é amor, o Espírito assume o papel de co-criador. Nesta dimensão transcendente, o seu talento é potencializado por inspirações sublimes e se materializa nas mais belas obras de arte. Certamente, foi penetrando em esferas psíquicas profundas que grandes artistas deram origem a excepcionais obras de arte, quer sejam da música, literatura, pintura, escultura, teatro, dança e outras.
Para Jung, a inspiração do artista advém de processos inconscientes, dos quais o indivíduo não tem qualquer controle. “Ele apenas pode obedecer e seguir esse impulso aparentemente estranho; sente que a sua obra é maior do que ele e exerce um domínio tal que ele nada lhe pode impor. Ele não se identifica com a realização criadora; ele tem consciência de estar submetido à sua obra ou, pelo menos, ao lado, como uma segunda pessoa que tivesse entrado na esfera de um querer estranho”, afirmou o psiquiatra. O artista, portanto, mergulha em mananciais criativos universais, de onde emerge a sua obra. E é justamente este caráter coletivo da obra de arte que provoca em nós um impacto ou um “algo em comum” com a expressão artística. Este é o segredo da ação da arte: ela traz à tona o que é comum a todos os seres humanos, mas está sob o manto do inconsciente. Assim, como afirmou Jung, ela concede “a cada um a possibilidade de encontrar o acesso às fontes mais profundas da vida que, de outro modo, lhe seria negado”.
A manifestação artística que nos paralisa, emociona, maravilha ou inspira revela, portanto, algo que existe no nosso mundo íntimo – e não apenas no do artista. É por este caráter coletivo que a arte sobrevive. Ela é essencialmente altruísta, posto que está a serviço do bem-estar de todos. A arte engrandecida pelo amor toca os recônditos da alma e ali acende uma luz, transformando-se em elo do Espírito com sua natureza divina e imortal.
Certamente a arte está presente no íntimo do espírito imortal, sendo expressa de várias formas e percepções, nos diversos ciclos reencarnatórios.
Aline você é a expressão da arte, você é poeta, seu espírito se manifesta na subjetividade dos seus sentimentos .
Esse seu artigo vem comprovar a lucidez da sua alma . Parabéns 🎊