Carlos Doria Adenáuer Novaes
Carlos Doria – A questão 27 de O Livro dos Espíritos nos diz que “Deus, Espírito e matéria constituem o princípio de tudo que existe”. Na sua opinião, onde o amor entra nessa equação?
Adenáuer Novaes – O amor é um sentimento humano de altíssima relevância para a evolução do Espírito. Sem ele, continuaríamos limitados pelo espectro de emoções dos animais. Enquanto o amor que o Espírito pode sentir é efetivamente vivido, quando se utiliza o mesmo termo para expressar a relação de Deus para com o ser humano, faz-se metaforicamente. O mesmo se pode dizer ao se afirmar que a atração observada entre partículas atômicas se trata de manifestação do amor. O amor é um sentimento exclusivamente humano, portanto, pertencente às conquistas evolutivas do Espírito.
Carlos Doria – O sexo, muito além de sua função reprodutiva, representa um elo que fortalece os laços entre duas pessoas. Como você enxerga o posicionamento de algumas religiões e filosofias que pregam a abolição completa do ato sexual e, até mesmo, das emoções?
Adenáuer Novaes – A conexão sexual entre duas pessoas que se propõem a viver uma experiência íntima possui diferentes nuances quanto aos seus propósitos. Quando ocorre de forma madura, consciente e em resposta ao sentimento de amor que se constrói, favorece o encontro do ser humano consigo mesmo. Sua abolição representaria uma desconexão que dificultaria o processo da busca de si mesmo. Tudo leva a crer que se trata de uma recomendação de moderação, visto que o prazer gerado pela união íntima pode, quando exacerbado, trazer prejuízos psíquicos. O sexo, quando envolvido pelo amor, aproxima o ser humano de sua natureza essencial.
Carlos Doria – É um fato que a humanidade, desde o seu surgimento, vem evoluindo, tanto em termos tecnológicos quanto sociais. E o amor? Ele também evoluiu ou continua o mesmo dos tempos do homem primitivo?
Adenáuer Novaes – Tudo na Natureza evolui, gerando um movimento ascensional inexorável. A busca do homem primitivo que culminava no sexo pode ser classificada como manifestação de seus instintos. O amor, como sentimento elevado que une duas pessoas, é conquista recente na história da Humanidade. Podemos afirmar que tem evoluído, apresentando-se em diferentes maneiras, manifestando-se em experiências cada vez mais complexas nas relações humanas e florescendo para além dos modos convencionais, demonstrando que a evolução de Espírito se faz acompanhar de características renovadas.
Carlos Doria – Se o amor é a força propulsora do universo, você poderia nos dar sua visão de porque parece ser mais fácil destruir do que construir?
Adenáuer Novaes – O que nos parece destruição deve ser entendido como renovação pela força do movimento imparável de transformação a que estamos todos submetidos. Quando se destrói algo, abre-se a possibilidade do surgimento do novo. O propósito subjacente a uma destruição vai além da lógica imaginal humana, visto que tudo concorre para que o Espírito atinja sua autodeterminação ao manejar a matéria, ao estabelecer relações com seu semelhante e ao entender a linguagem da vida.
Carlos Doria – Como podemos cultivar o amor em um mundo cada vez mais individualista e competitivo, enfrentando os desafios da sociedade contemporânea?
Adenáuer Novaes – O amor surge como atualização do espectro das emoções humanas, produzindo efeitos transcendentes no psiquismo do Espírito. Sua ação dissolve as raízes do egoísmo e da animosidade entre os seres humanos. O mundo globalizado de hoje tende a levar as pessoas a buscarem o amor de forma mais seletiva, pois a solidão, inerente ao uso da tecnologia, promove sua expressão mais verdadeira. Para viver o amor nos dias de hoje, basta seguir o conselho deixado por Jesus para que aprendamos, inclusive, a amar os inimigos.