Carlos Dória
Saber-se Espírito é muito mais do que acreditar em uma conexão entre a dimensão material, na qual vivemos, e o chamado “mundo dos mortos”, ou uma mera constatação obtida através de experiências metafísicas de cunho mediúnico. Para saber-se Espírito, verdadeiramente, é preciso, antes de tudo, reconhecer a si mesmo como imortal, disso resultando um intenso e inadiável desejo de desfrutar a vida plenamente, experienciando para aprender, aprendendo para integrar e integrando para evoluir.
Importantíssimo é compreender que, no curso da construção de uma espiritualidade equilibrada, são muito mais relevantes a essência do Espírito propriamente dita e os valores cultivados por ele do que dogmas e regulamentos advindos das chamadas “religiões formais”. O planejamento da existência não pode e nem deve permanecer restrito, sob nenhuma hipótese, aos estreitos horizontes do Personagem vivido numa única encarnação. Ao contrário, é preciso contemplar o contínuo ir e vir do processo reencarnatório, ferramenta divina que conecta passado, presente e futuro de todos os seres humanos, harmonizando e solidarizando, de forma perfeita, os fatos e acontecimentos que, de outra maneira, pareceriam desarrazoadas tragédias e que não combinariam com a figura de um Deus amoroso e justo, superlativo em todos os Seus atributos. Tampouco caberia na fórmula de um Universo dinâmico, equilibrado nas interações entre todos os seus partícipes, vivos e não vivos, desde o átomo até a maior galáxia, passando por toda a escala da Criação, inclusive o Espírito, sem solução de continuidade em suas múltiplas dimensões.
Lembremo-nos de que cada existência é uma oportunidade para o Espírito viver experiências a partir de um certo período de tempo, mas sem se limitar a ele, pois, dentro das múltiplas encarnações, e nos intervalos entre elas, consolidam-se aprendizados e preparam-se novas propostas para reparar equívocos e aprimorar acertos. Destarte, voltamos renovados e, porque não dizer, melhores a cada nascimento. Assim é que o maior beneficiário, além do próprio indivíduo, é a sociedade em que ele vive, seu teatro de interação com o outro. Quando já possuidor de um senso moral mais elevado, um juízo de valor bem apurado pelas existências pretéritas, o indivíduo é capaz de lidar melhor com o seu semelhante e administrar, com menor sofrimento, as querelas peculiares à vida em comunidade. Se é sabedor da imortalidade do Espírito e de que cada indivíduo ocupa um patamar próprio na romagem evolutiva, ama, perdoa e auxilia com muito mais facilidade. Constrói pontes ao invés de muros. Enxerga irmãos de jornada e não, inimigos. Outrossim, nessas interações é que o Espírito adquire e cultiva valores superiores, frutos da afinidade derivada de sermos todos filhos de Deus.
Urge se compreender que os valores do Espírito, sejam quais forem, são representações do Amor! Amando, podemos conhecê-los e, amando ainda mais, podemos compartilhá-los! Sentimentos de compaixão, alegria, justiça, ternura, entre tantos, só alcançam pleno sentido sob a perspectiva da imortalidade, principal desdobramento do Amor de Deus por nós e por tudo que Ele criou. Ao nos fazer simples e ignorantes, entregando-nos todo o Universo e permitindo que fôssemos cocriadores de Sua obra, Ele nos deu um propósito para existirmos interconectados: trabalhar pela própria evolução, mas sem deixar de auxiliar na evolução do outro.
Então, perguntemos: como cultivar os valores do Espírito? Não existe uma única resposta. Talvez seja esforçando-se para enxergar a Humanidade, encarnada e desencarnada, além do resto da Criação, como companheiros de jornada, iguais perante o Criador. Ou, quiçá, amando de forma incondicional! Porém, um fato é inequívoco: qualquer opção só é possível de ser implementada pela ótica do Espírito imortal.