O que a ciência tem a dizer sobre esses valores?
Robyson Uzeda
“Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor”.
José Saramago
Afeto, alegria e compaixão são aspectos fundamentais da experiência humana. Eles estão profundamente ligados às nossas emoções, nossos relacionamentos e nosso bem-estar geral.
O afeto é um instrumento do amor: todo aquele que ama é afetivo. Não há a possibilidade de amar-se alguém sem que exista o afeto.
Alegria é uma emoção comum que sentimos em momentos de felicidade, prazer e realização. Ser alegre não significa estar sempre sorrindo ou tentando agradar a todos. A alegria reflete a manifestação divina que encoraja o Espírito a expressar sua felicidade interior.
Para o poeta, na estrofe acima, não há espaço para sofrimento, para lamúrias, não há do que se queixar quando se exerce a alegria: “a alegria do corpo, o esquecimento da dor”. Quando se está em estado de alegria, o “corpo” é impregnado pela sensação de felicidade, não há espaço para a dor, o espírito se regozija.
Compaixão, por outro lado, é o desejo incondicional de ver o outro livre do sofrimento. Essa virtude é evidenciada na parábola do Bom Samaritano, onde Jesus ensina o seu significado. Essa qualidade ultrapassa crenças, ensinamentos religiosos e está relacionada ao amor.
Uma vez transformados em habilidades, ou seja, quando saem da esfera do pensar e se tornam atitudes, os sentimentos, em questão, proporcionam um bem-estar àqueles que os praticam, e são alimentos para os que os recebem.
A Psicologia, a Psiquiatria, a Neurologia e a Neurociência têm desenvolvido inúmeras pesquisas sobre o tema em epígrafe. Entre elas, destacam-se algumas. A primeira é a Social support and cardiovascular risk factors among black adults, realizada por Hernandez DC, e outros, publicada em 2014, sugere que o suporte social, entendido como afetividade, pode ser uma forma importante de promoção de saúde, prevenindo doenças cardiovasculares naquela população específica. Em outra pesquisa, intitulada Social Support, Positive Interactions, and Daily Positive Affect e conduzida pela Universidade de Pittsburgh, em 2010, mostra que as pessoas que relataram mais suporte social, interações positivas e afeto positivo diário tiveram menos sintomas de depressão e ansiedade. Sheldon Cohen e colaboradores publicaram no Current Directions in Psychological Science, em 2006, o estudo positive affect and health, demonstrando que pessoas que experimentam mais emoções positivas em suas vidas têm melhor saúde física e mental a longo prazo.
Sob o título Effects of Compassion Meditation on Neuroendocrine, Innate Immune and Behavioral Responses to Psychosocial Stress, publicado na revista Psychoneuroendocrinology, em 2013, os autores concluíram que a compaixão pode reduzir a resposta ao estresse, reduzindo os níveis de cortisol, além de promover um aumento na atividade das células T, importantes para o sistema imunológico. Na mesma área, o trabalho Alterations in Brain and Immune Function Produced by Mindfulness Meditation, conduzido pela Universidade de Wisconsin-Madison, em 2003, teve, por objeto, examinar os efeitos da meditação sobre a atividade cerebral e a função imunológica. Os estudiosos descobriram que, nos indivíduos que praticavam a meditação compassiva, havia um aumento da atividade no córtex pré-frontal, área do cérebro associada à empatia e à compaixão.
Cultivar afeto, alegria e compaixão em nossas vidas é importante para nosso bem-estar emocional e físico. Demonstre afeto às pessoas que lhe cercam, deseje o contato com as pessoas, sem erotismo, sem interesses. Procure realizar suas atividades com alegria, com prazer. Passe a olhar a vida como um turista que, em viagem, contempla a beleza de cada lugar. Olhe o outro com alteridade, sem julgamentos, sem ideias preconcebidas, pois ele está em processo evolutivo, assim como você.