Autor: Eduardo Dantas
É difícil conceber o Espiritismo sem a Mediunidade. Mas a Mediunidade não é uma propriedade do Espiritismo. “A mediunidade antes de ser uma faculdade espírita é um fenômeno do Inconsciente perispiritual, cuja estruturação se deu nos primórdios da evolução anímica, quando da passagem do humano ao animal”. O que está colocado nos dois primeiros períodos deste texto é da natureza da obviedade, do coletivo; o que foi posto entre aspas é da ordem do particular, perspectiva de abordagem bem específica, que não nos pertence, embora seja do nosso interesse e ecoe em nossas práticas. A citação é assinada por Adenáuer Novaes. Com ela, ele abre, em epígrafe, a obra Psicologia e Mediunidade, livro de 224 páginas, publicado pela Editoria da Fundação Lar Harmonia.
O livro, que é o texto-base no nosso Ciclo de Estudos 3, é um mergulho profundo pelos estudos da Mediunidade sob a perspectiva e pelo viés da Psicologia, o que se mostra, já de início, como um dos grandes motivos para nos aprofundarmos nele, para que nos interessemos. Além disso, em sua forma de abordagem, é um bom exemplo de fôlego intelectual e de como os nossos saberes ou as nossas formas de inscrição na encarnação podem ser postos em pensamento colaborativo, dialógico, intertextual, interdisciplinar.
Na obra, dois lugares de fala se hibridizam: o mediúnico é porção do psicológico; o psicológico, porção do mediúnico. Cada leitor faz a leitura pela entrada de seu interesse, isto é, os que saem de um lugar adentram o outro. Nesse jogo de trocas, saberes se entrecruzam, descolando os conteúdos estudados de campos estanques para colocá-los em uma disciplinaridade interativa, que a todos beneficia.
Nesse sentido, é bastante pertinente destacar, por exemplo, o diálogo que o Autor estabelece com seus colegas de profissão, quando, em um dos capítulos, dirige-se “Aos psicólogos, terapeutas e curadores da alma”. Nesse entorno, também é muito relevante perceber como, em outro lugar que também é confortavelmente seu, ele se reporta “Aos que lidam com desobsessão”. Essa fala polifônica, isto é, esse encontro das diferentes formas de elocução do autor é, certamente, um dos pontos mais marcantes do livro, porque o faz interessar e se endereçar a todos aqueles que se propõem a tomar o ser humano em sua complexidade, em seu todo, ou seja, aqueles que não o reduzem a formas simplórias de ver.
A obra é, pois, um exercício de autoria e deve ter destaque nas nossas anotações de leitura – não apenas nas nossas estantes – exatamente, por ser um locus de encontro dos saberes com os quais nós, na ULE, mais operamos: os saberes oriundos do Espiritismo, os saberes oriundos da Psicologia. Ela deve estar na lista das referências dos nossos trabalhos, dos nossos estudos, porque entra, com sua linguagem direta, precisa e prática, na esteira do pensamento que busca naturalizar o intercâmbio com as pessoas que vivem e vibram em dimensão diferente da nossa.
Ademais, é muito saudável a honestidade do autor ao dizer que não pretende – com o livro – tecer um novo Manual para o trabalho mediúnico, mesmo porque – reconhece ele e sabemos nós – esse manual já existe e está em Kardec e em tantos outros que vieram em sua fileira. De Adenáuer, mais que um Manual, vem esse desejo pulsante em cada página de, como ele mesmo diz, destacar que o fenômeno mediúnico é espiritual e psicológico ao mesmo tempo. Isso é empolgante!
Entremos, então, na aventura desse entrelugar e reforcemos ainda mais os nossos saberes, colocando-os em diálogo, em suplementação, interação produtiva. Mais que isso, entremos em leitura ativa, pensando sobre os conteúdos da obra, crescendo com eles, entendendo-nos um pouco mais a partir disso. Depois, passemos nós mesmos a produzir os nossos saberes também, as nossas percepções também, os nossos diálogos também, a nossa vivência também.
Boa leitura!