Laiza Oliveira

As manifestações dos Espíritos são de todos os tempos. Ao longo da história, despertou crenças, novas religiões, rituais, culturas e novas áreas de estudos, a exemplo do Espiritismo. Por mais que tenham chamado mais atenção pelo fenômeno do que pela natureza do ser em si, elas demonstram não apenas a sua existência, mas sua sobrevivência e, sobretudo, a manutenção de sua individualidade – a Continuidade do Eu. O ente eterno, sobre o qual não se pode negar sua autonomia, e que vem dele, o Espírito, a vontade de se mostrar ao mundo.
As buscas do ser humano refletem o desejo de encontrar a si mesmo, ainda que projetadas para o externo, mas sempre mantendo um olhar da matéria para o espiritual. Foram muitos séculos até que se atentasse para a verdadeira essência humana. No século XIX, o Espiritismo possibilita esclarecimentos sobre a vida espiritual, sobre a origem e natureza do Espírito e, principalmente, uma proposta para esta inversão do olhar, oferecendo uma percepção da vida e da realidade sob a ótica do Espírito.
São quase dois séculos deste conhecimento, mas o ser humano ainda navega em águas rasas, sem um mergulho profundo para compreender a grandeza desta revelação e suas reais contribuições para a Vida. A crença de que somos Espíritos imortais traz, a princípio, apenas uma nova roupagem e acaba que nos estaciona no mesmo lugar de quem molda seus comportamentos e ações para merecer um bom viver ou para alcançar benesses numa vida futura, numa dialética de bem e mal, causa e efeito, e subordinados a um Deus concebido conforme nossos próprios atributos.
Manter-se na crença é continuar banhando-se nas águas rasas desse saber. Apenas um mergulho profundo permitirá ser inundando a ponto de integrar esse saber, de forma que as crenças, apoiadas na razão e na lógica, possam dar lugar a um sentir, promovendo uma verdadeira alquimia interna e fazendo surgir uma nova visão de si mesmo e da realidade, enquanto ser espiritual que busca descobrir-se por si mesmo, através das próprias experiências. Trata-se de um mergulho que requer um desejo profundo e, acima de tudo, coragem de se despir completamente enquanto se abre para um novo e inusitado caminho, muitas vezes solitário, sem medo das responsabilidades próprias de um ser autônomo, que goza da própria liberdade.
Compreender-se Espírito como definição de ser humano abre caminhos para novas formas de viver. Perpassa pelo entendimento da diferença entre o Espírito e o Personagem, uma missão desafiadora para o Eu. O que aparentemente se configura como uma dualidade deve ser entendido como fases ou etapas necessárias para que a essência imortal evolua através das experiências, projetando-se na realidade material, através da interação mente (perispírito) e corpo físico, a depender da dimensão. Cada Personagem é um recorte da vida do Espírito, sendo, assim, finito. Integrar a Continuidade do Eu pressupõe aceitar a mortalidade do Personagem e seus rompimentos e, ao mesmo tempo, a continuidade de tudo que é mais importante ao Espírito.
Mas será que existe um mapa que nos auxilie nesta compreensão? A Universidade Livre do Espírito – ULE é um projeto espiritual com uma proposta pioneira de levar o ser humano para além desta crença, integrando, à sua consciência, a sua verdadeira identidade, de forma a viver como Espírito, apropriando-se de suas potencialidades e, sobretudo, de sua imortalidade – Continuidade do Eu. Em suas práticas de estudo, é possível perceber algumas pistas. O encadeamento lógico dos estudos de cada ciclo, entendendo que ampliar o conhecimento é chave importante no processo, assim como uma provocação constante para reflexões de crenças e protocolos que engessam o viver.
A proposta de autodeterminação através do conhecimento da própria consciência, do acesso ao inconsciente, da autotransformação e auto-iluminação; a experiência no exercício da mediunidade e sua naturalização; e a proposta de integração com o Divino em si, conectando-se com propósitos existenciais da vida maior, na realização da sua Designação Pessoal, são tópicos que, quando compreendidos e internalizados, permitem ao Personagem viver consciente da sua natureza espiritual em qualquer que seja a dimensão, valorizando o tempo e vislumbrando propósitos maiores em sintonia com os anseios do Espírito e com a conexão com o Divino. Ao que parece, ao unir estudos e vivências práticas, a ULE aponta um caminho para que “A Continuidade do Eu” seja um tema compreendido e, acima de tudo, sentido. No entanto, como já foi dito, anteriormente, esse processo se dá na intimidade de cada um, obedecendo o tempo e o desejo que também terão caráter particular, assim como as experiências – singulares como o ser em si.