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Editorial

A dança do Eu

Adenáuer Novaes

O pulsar do Espírito, cujo ritmo denuncia uma nova expressão da Natureza, que avança em complexidade crescente, é a aurora da vida. É a dança da vida, cujo dançarino está acordando. Tal avanço parece ter um propósito, que não se enquadra estritamente na lógica humana, apresentando, notoriamente, padrões em desacordo com ela. Um exemplo dessa discrepância com a lógica humana se encontra no mundo subatômico, no salto do elétron, pois não se sabe onde ele se encontra durante o fenômeno. A ciência “sabe” dos paradoxos que desafiam o saber racional e, a partir da segunda metade do século XIX, vem se dedicando, longe dos holofotes mediáticos, ao estudo e à comprovação da Continuidade do Eu. Em que pese o Eu demonstrar que vem se emancipando da força avassaladora do coletivo, ainda se mantém cauteloso quando se trata de sua continuidade, pois a revolução social que provocaria, pela imediata consciência, poderia ser desagradável.
Imortalidade, Vida após a morte e existência de Espíritos são temas que permeiam a vida humana e que trazem uma aura de misticismo e de dogmatismo religioso contaminada pelo imaginário popular. Difícil é estudar o conteúdo desses temas sem que a contaminação ocorra, sobretudo naqueles que detêm um raciocínio lógico, científico, avesso ao conhecimento pronto, vindo de uma autoridade que se diz superior. Mesmo eles, que se dizem neutros, têm, na base de seu pensar, ainda que fugindo delas, as matrizes religiosas das culturas onde transitaram. Por mais que neguem, acabam por se quedar ante os fenômenos que lhes ocorrem na vida privada. Ninguém escapa ao espiritual, pois vivemos em uma sociedade mista, na qual as dimensões, naturalmente, se interpenetram. A dança do Eu é permanente. No início, desengonçado, mas, tão logo pega o ritmo, torna-se exímio bailarino a encantar com sua arte.
O sol é uma referência importante, pois produz luz, calor e energia para a terra, além de marcar um ciclo diário que pauta o cotidiano humano. Mas um outro sol metafórico, cujo brilho é inigualável, também permeia o dia a dia de todo ser humano e não tem sido valorizado. Trata-se do Espírito em si, cujo Eu, com seus inúmeros atributos, representa sua imensa claridade. Sua natural ignorância, que o impulsiona a descobrir-se, leva-o a conhecer a realidade e tudo que nela se encontra, projetando sua própria essência. Espírito e realidade traçam um roteiro no qual executam uma espécie de dança, embalados por uma melodia sutil que permeia tudo. É a dança da vida, que promove o espetáculo da evolução que nunca cessa.
(Extraído do livro A Continuidade do Eu, ed. 2024, pg. 127 a 128.)

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