Jeisa Crusoé 
A maior dádiva e, ao mesmo tempo, o maior desafio do ser humano é compreender que a própria vida é uma obra de sua autoria. Não há destino, nem acaso, nem circunstâncias em que a força criadora própria do Espírito não possa enfrentar e vencer.
Adenáuer Novaes, em sua obra A Autodeterminação do Espírito: A Soberania do Ser em Si e seu Campo Pessoal, nos conduz à compreensão de que o Espírito é um ser consciente de si, dotado de poder e responsabilidade sobre sua própria existência. Autodeterminar-se, portanto, é assumir essa soberania, compreendendo que cada escolha, cada pensamento e cada atitude são notas que compõem a sinfonia do próprio destino. 
Autodeterminação não é independência egoísta nem imposição sobre a vida. É, antes, uma compreensão da Vida. É usar com lucidez a liberdade, acompanhada da responsabilidade pelas consequências que dela decorrem. Somos livres para fazer escolhas e decidir, mas não para escapar dos efeitos do que criamos. O seu Campo reverbera o reflexo exato das vibrações que você emite.
Nessa perspectiva, a lei de causa e efeito deixa de ser vista como punição divina e passa a ser entendida como um processo pedagógico da evolução do ser. O Espírito evolui quando compreende que não há destino fixo nem castigo eterno: há o seu Campo Pessoal, onde ele vivencia suas experiências correspondentes à qualidade com que vibra.
O seu Campo Pessoal é a extensão psíquica e energética do ser, onde se registram os conteúdos da alma, conscientes e inconscientes. Cada Espírito é o maestro desse Campo: rege as emoções, organiza pensamentos, dá ritmo às atitudes, e, por meio disso, cria o ambiente espiritual em que vive.
Autodeterminar-se, portanto, implica conhecer e manejar o próprio Campo. E esse manejo começa no reconhecimento das próprias sombras — aquilo que ainda habita o inconsciente e influencia silenciosamente suas escolhas. Após tornar consciente o que estava oculto, cabe então, integrar o que foi negado, reprimido ou esquecido. 
Enquanto o Espírito não conhece o próprio Campo, ele é movido pelas forças automáticas do inconsciente — crenças herdadas, medos antigos, padrões emocionais cristalizados. Vive como uma orquestra sem maestro, em que cada instrumento toca uma melodia diferente. Mas à medida que desperta, ele aprende a escutar as dissonâncias internas, a harmonizar os afetos, a reger os próprios impulsos.
A autodeterminação é, então, uma meta importante na evolução do Espírito: a passagem da reação para a criação. O Espírito deixa de ser vítima dos acontecimentos e passa a ser coautor do seu destino. Deixa de repetir desacertos e passa a escrever novas histórias.
Certa vez me disseram que “Deus escreve certo por linhas tortas”, no que alguém retrucou: “Não! Deus escreve certo, por linhas certas – e nós é que lemos torto”. Pois, em minha opinião, “Deus” não escreve… ele nos instrumenta com caneta e papel adequados para que, em jornada evolutiva, possamos escrever a nossa melhor história. A cada dia, ganhamos mais uma página em branco a ser bem escrita.
Autodeterminação não significa controle absoluto sobre a vida — mas responsabilidade consciente diante dela. O Espírito autodeterminado entende que suas escolhas não são isoladas: irradiam, influenciam, modificam campos à sua volta. Cada gesto é semente no solo vibratório do universo, e isso requer de nós, uma ética, um compromisso com o coletivo e com o planeta que habitamos.
Ser autodeterminado é viver com lucidez ética. É compreender que cada pensamento tem peso, cada palavra tem frequência, cada ato tem direção. E que o livre-arbítrio não é apenas poder escolher, mas saber o que se está escolhendo — e com que intenção.
No Campo Pessoal, a harmonia não se conquista pela ausência de conflito, mas pela integração dos opostos – ou das diferenças. Assim como numa orquestra, a beleza surge da relação entre notas graves e agudas, entre pausas e sons. O Espírito aprende a transformar ruídos internos em acordes de consciência, e, a partir disso, sua vida torna-se música viva — expressão da soberania do ser em si.
Autodeterminar-se, em última instância, é reconhecer-se como centro criador, em sintonia com a Vida. É viver sabendo que o poder de mudar o Campo e o destino está dentro — não fora. E quando o Espírito enfim compreende isso, ele deixa de perguntar “por que a vida me faz isso?” e passa a dizer, com serenidade e grandeza: “o que a vida quer me ensinar com isso?”
Nesse instante, a consciência se expande, o Campo se ilumina e a Vida se transforma em caminho de amor — onde o Espírito se autodetermina.