Robélia Dorea 
Interessante essa terminologia “autodeterminação”, pois nos leva a pensar o para quê e o como se autodeterminar. Qual o propósito desse processo?
Na condição de profissional que lida com o psiquismo humano e que também reconhece a continuidade da consciência ao cessar a vitalidade do corpo físico, imediatamente nos voltamos para os primórdios da evolução da consciência quando se expressava, nos primeiros movimentos como mônada, guardando o princípio espiritual embrionário, que chegaria ao Espírito que pensa, sem antes ter que passar por várias etapas evolutivas nos diversos reinos da natureza. 
Chegamos ao Espírito. A partir desse ponto já podemos pensar em autodeterminação pois, para tanto, estaremos submersos em processos evolutivos envolvendo aspectos inconscientes e conscientes, que nos levarão à busca de nossa autodeterminação.
Pergunta 115 de O Livro dos Espíritos: ¨”Entre os Espíritos, alguns foram criados bons e outros maus?”1
Ao que os Espíritos respondem: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, quer dizer, sem conhecimento. Deu, a cada, determinada missão com o objetivo de esclarecê-los e fazê-los chegar progressivamente à perfeição pelo conhecimento da verdade e para aproximá-los dele.”2
Portanto, como simples e ignorantes surgimos como mônadas, onde reside o princípio espiritual de toda criação. Segundo o Espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, o conceito de mônada está ligado à origem divina e essencial do ser, à centelha espiritual primordial criada por Deus, onde tudo começou. É a centelha divina, o princípio inteligente criado por Deus, que inicia sua longa trajetória evolutiva desde os reinos mais simples da natureza até atingir a condição de Espírito consciente e, por fim, de pureza angelical. É a essência espiritual individualizada que traz, em si, o potencial de perfeição pela autodeterminação.
Seguindo esse raciocínio evolutivo, em O Livro dos Espíritos, da pergunta 843 em diante, que trata do livre-arbítrio, Allan Kardec nos diz que o Espírito é um ser imortal, inteligente e livre, criado simples e ignorante, que evolui através de suas próprias escolhas, com capacidade de decidir por si mesmo, de usar o livre-arbítrio e, por meio das próprias ações e aprendizados, de construir o seu destino moral e espiritual, dando-nos a ideia de liberdade de escolha para nosso destino e nossa autodeterminação.
Sabemos que o Espírito não é predestinado e que seu destino pode ser manejado. Sua evolução depende de seu esforço e de sua própria vontade nas decisões que vier a tomar, sempre atento ao que o Self intui constantemente. O sofrimento e a felicidade são consequências naturais de sua autodeterminação, resultantes de escolhas acertadas ou equivocadas. É o tornar-se senhor de si mesmo, libertando-se de condicionamentos materiais, emocionais e mentais para expressar plenamente a essência divina interior.
Autodeterminar-se é agir conforme a própria razão e não conforme forças externas, coletivas. É necessário afastar-se do coletivo e voltar-se para si mesmo porque a autodeterminação implica autoconhecimento, disciplina interior e expansão da consciência, bem como o uso consciente do livre-arbítrio para evoluir moral e espiritualmente. É a passagem de ser governado por influências coletivas para a autonomia espiritual ser guiado pelo Eu, realizando a vontade divina interior e ter domínio sobre o ego e a matéria.
Em seu processo evolutivo, nas etapas que vivencia experiências em diversos personagens, passando por condicionamentos no processo de reencarnar, desde o útero materno às experiências que vivencia influenciadas pelos pais, irmãos, familiares e a cultura da época, o Espírito vai se libertando aos poucos desses condicionamentos, à medida que se dá conta de sua autoconsciência e de sua autonomia espiritual. O Personagem se condiciona por influências externas. O Espírito se autodetermina pela busca de valores supra arquetípicos.
Discorrendo sobre a autodeterminação do Espírito, NOVAES (2025)*3 nos mostra alguns caminhos para esse fim, destacando a sabedoria de saber viver em sociedade, pois é na dinâmica do convívio com outros que estão os desafios e os meios para integrar novas habilidades e alcançar a autodeterminação.
Ele sugere, como recomendação, o desenvolvimento da empatia, pois à medida que se coloca no lugar do outro, é possível sentir o que o outro está sentindo e, ao mesmo tempo, se autoconhecer. Para além da empatia, as sugestões são: ter capacidade de apaziguar contendas familiares; educar a vaidade; minimizar litígios e viver amorosamente, entre outras recomendações.
Ao alcançar sua autodeterminação, fica demonstrada a capacidade essencial do Espírito em conduzir sua trajetória de crescimento pela autoconsciência conquistada.
É pelo exercício consciente da vontade, do discernimento e da responsabilidade que o Espírito transforma ignorância em sabedoria, entraves em liberdade e sentimentos menores em amor. Reconhecer-se como agente de sua evolução é entender que o destino é construído de dentro para fora. Assim, a verdadeira realização espiritual nasce da íntima escolha de avançar sempre em direção ao bem, à verdade e à plenitude do ser, pelo reconhecimento de sua designação pessoal, manejando o próprio destino ao encontro de si mesmo e de sua autodeterminação.