Robyson Uzeda
Rose Behrens 
Robyson – O termo Aurora Consurgens ou o surgimento da aurora sugere, metaforicamente, o desabrochar de algo, uma transição para o despontar do novo, mais especificamente ao que nos cabe tratar, um suave despertamento da Consciência e das capacidades inerentes ao Espírito. Nesse sentido, como você enxerga a mediunidade?
Rose Behrens – Diante dessa metáfora, onde a Aurora é o sair da escuridão, do desconhecido, vejo a mediunidade como revelação, uma comprovação da continuidade da vida, onde o indivíduo amplia, desperta a consciência para compreender que sua essência não se limita às experiências terrenas de uma única existência. Ela ajuda a desmistificar a ideia de que a vida termina com a morte do corpo físico, pois ela tem continuidade na dimensão espiritual. Essa conexão entre as dimensões material e espiritual, que se interpenetram, descortina a ignorância quanto à continuidade do Eu. O Eu é o centro de tudo e, por isso, é indestrutível.
A mediunidade é como uma ponte que nos conecta e nos permite transitar nas dimensões existenciais, reconhecendo a nossa verdadeira essência, bem como nos apropriar do Espírito que somos, tendo plena consciência de sermos seres espirituais experienciando na matéria (corpo físico), representados por um Personagem. Infelizmente, a mediunidade ainda não é entendida como algo natural, espontâneo, A mediunidade ainda é tratada como um fenômeno sobrenatural, algo estranho que se restringe ao uso institucional, assistencialista e religioso. A mediunidade deve, sim, ser considerada como algo natural, como de fato ela é, e vista como uma ferramenta para o crescimento pessoal contínuo.
Robyson – Interessante você trazer a mediunidade como essa aurora. A partir de sua resposta, é possível dizer que a mediunidade é inerente ao ser humano e dela faz parte desde a formação do Eu?
Rose Behrens – Sim, a mediunidade é uma faculdade inerente ao ser humano, intrínseca e natural, que independe de fatores externos, culturais ou religiosos, e, desde que o Eu é formado, e a cada nova encarnação, ela ali está inserida, integrada, em diferente grau de intensidade e manifestação, dependendo de como é desenvolvida, reconhecida e utilizada. A mediunidade não é um dom, mas uma habilidade desenvolvida, treinada para além dos cinco sentidos, e nos permite uma maior compreensão da vida, do universo e das leis de Deus. Estamos diante de uma Aurora, procurando enxergar a vida como Espírito que verdadeiramente somos, mergulhando cada vez mais nesse entendimento para ampliar essa claridade, esse brilho. Pensemos no sair da visão do Personagem e no enxergar-se como Espírito. Segundo Adenáuer Novaes, no livro A Continuidade do Eu, isso só acontecerá com o aprofundamento da mediunidade, quando dela nos apropriarmos, deixando de vê-la como fenômeno e passando a percebê-la como algo extremamente natural, saber como ela se apresenta e como funciona, e praticá-la em nosso dia a dia. São muitos os médiuns que ainda não têm a certeza desse intercâmbio e se perguntam constantemente: isso é meu ou é do outro? Muitos não se percebem dentro do fenômeno, não chegaram a compreender a mediunidade como potencialidade da natureza humana, como expressão das capacidades espirituais que todos possuem e aguardam serem aperfeiçoadas.
Robyson – Em sendo uma aurora associada à formação do Eu, portanto, uma faculdade a ele integrada, por que a mediunidade não é utilizada de maneira natural?
Rose Behrens – Porque as pessoas ainda enxergam a mediunidade como algo divino, sobrenatural, algo místico, como se as pessoas que possuem essa sensibilidade medianímica fossem diferenciadas, escolhidas ou até mesmo amaldiçoadas. Mas tudo isso se resume à simples falta de conhecimento do assunto, havendo, ainda, preconceitos em relação ao fenômeno mediúnico. A mediunidade ainda é vista como algo estranho, que causa medo, desconforto. Pessoas que ainda, no século XXI, se acham esquisitas não naturalizaram o processo; outras têm medo de Espíritos, não compreendem que a dimensão espiritual não está lá, está aqui, simplesmente fora do corpo material. Estamos a todo momento influenciados por Espíritos encarnados ou desencarnados, na mesma proporção. A mediunidade precisa ser desenvolvida e utilizada no cotidiano, sendo compreendida como uma expressão natural do processo evolutivo da consciência, de forma espontânea, consciente e equilibrada, pois cada ser, em sua individualidade, age e reage de formas diferentes. A mediunidade não é fantasia, não é crença, ela é uma ferramenta fantástica, uma potencialidade, como já me referi, e que precisa ser acessada, trabalhada, para benefício próprio. No intercâmbio mediúnico, aprendemos muito com a comunicação entre as dimensões. É uma troca mútua de conhecimento, de experiências e de aprendizado sobre a vida espiritual. A mediunidade nos faz buscar, em nós mesmos, conteúdos esquecidos, e que muito nos ajudarão na construção de dias mais tranquilos, pois nos darão a certeza de que os equívocos de hoje se tornarão aprendizados na construção de um futuro melhor.
Robyson – Você acredita que a mediunidade poderá ser dessacralizada e utilizada para além das finalidades religiosas e institucionais?
Rose Behrens – Eu acredito que sim, mesmo sendo um processo lento. Já existe uma aceitação na consciência humana, um maior interesse, porque a mediunidade é uma manifestação natural que permeia nossa rotina e nossas experiências cotidianas, e será um grito de liberdade para a humanidade. Poderemos nos manifestar de forma livre, sem vínculos a qualquer religião, a centros espíritas, e, com a sua prática, poderemos realizar o intercâmbio de forma cada vez mais natural. Somos Espíritos e estamos realizando a transição nas dimensões interexistenciais.
Acredito que com a ampliação do uso dessa ferramenta, que é tão acessível a todos nós, com a compreensão de que nada é punitivo, que não é propriedade de nenhuma religião, que não há hierarquias, e sim, uma condição natural do ser humano, vamos avançar para utilização desta faculdade no dia a dia, com maior conhecimento e domínio, apropriando-nos do que é nosso e estimulando uma postura de responsabilidade e disciplina, com a aquisição de novas habilidades no contato com o espiritual. O uso da mediunidade no cotidiano trará uma visão maior para si mesmo, o entendimento de que tudo depende de nós, do que construímos, de nossos pensamentos, ideias e emoções. Em qualquer lugar que estejamos, ao pensar, sentir e agir, estaremos sempre nos conectando com o espiritual. Basta sentir!
Robyson – Para finalizarmos, gostaria que você tecesse alguns comentários acerca da mediunidade como instrumento para se perceber a continuidade do Eu.
Rose Behrens – Pois bem! Através da mediunidade, conectamo-nos e realizamos a comunicação com seres humanos que já fizeram sua passagem para a dimensão espiritual. Não estão mais nessa existência, mas continuam vivos, conversando, apresentando-se, ajudando-nos, influenciando positiva ou negativamente em nossas vidas, a depender da nossa maneira de ser, de estar e de ficar. É uma conexão entre encarnados e desencarnados por diversas possibilidades, através dos tipos de mediunidade desenvolvidos pelos médiuns, trazendo informações importantes sobre a existência de determinadas pessoas, com encontros, reencontros e despedidas. Temos vários exemplos nos quais se percebe a continuidade do Eu, como, por exemplo, as inúmeras Cartas de Chico para várias mães sofridas e saudosas dos filhos já desencarnados, dando detalhes muito particulares, não trazendo só a memória, mas uma manifestação da própria identidade.
Naturalizar a mediunidade é deixar de enxergá-la com o olhar fenomenológico sobre algo paranormal, não ver uma faculdade inteiramente humana como sendo algo sagrado ou um dom de Deus aos “escolhidos”. Naturalizá-la é poder utilizá-la como uma ferramenta evolutiva, a qual nos ajuda a ampliarmos conhecimentos, a compreendermos a dinâmica psíquica e que Espíritos são pessoas e pessoas são Espíritos, parafraseando Novaes. Com essa tomada de consciência, passamos a prestar mais atenção a nossos impulsos, a nossas escolhas, para não ter, como consequência, sofrimentos desnecessários por permanecer na ignorância sobre o funcionamento da vida. Estamos aqui para aprender, evoluir, para nos tornarmos pessoas determinadas e ajudarmos, uns aos outros, na construção de um mundo melhor. O processo de evolução espiritual é contínuo. Teremos, sempre, novas possibilidades de aprendizado e aprimoramento, simbolizado pela “Nova Aurora”, uma renovação, um novo começo.