Silvana Dias 
Todo amanhecer anuncia o término da noite e o começo de um novo dia, e, à medida que avançamos nas descobertas sobre os aspectos do Universo, nos deparamos com esta mesma dinâmica nos processos existenciais em ciclos de transformação, dos mais complexos e grandiosos aos mais sutis e subjetivos. Em todos esses processos, podemos também identificar uma interseção, um portal, uma aurora que se apresenta como ponte para o novo que surge. A mediunidade, inerente ao Espírito, se apresenta neste campo de transcendência como a faculdade que revela ao ser humano sua natureza essencial, prescindindo de toda a mistificação e negação no decorrer de sua trajetória.
Quando, ao final do século XIX, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail sente-se instigado a desvendar os fenômenos das “mesas girantes”, mais uma vez abria-se uma janela para iluminar a consciência humana. A escolha do pseudônimo Allan Kardec, para revelar a existência do Espírito e de uma dimensão espiritual, já anunciava a vinda do novo, em novas bases de pensamento e entendimento. Surge, então, a Doutrina Espírita, a partir de O Livro dos Espíritos (1857), não só reconhecendo a relevância dos fenômenos, mas também do Espírito, da realidade espiritual e da capacidade de acessar esta outra dimensão existencial. 
A mediunidade, como faculdade inerente ao ser humano, sempre esteve presente em toda em nossa jornada e a variedade de nomes, usos e interpretações referentes a ela costura-se em todo o tecido da história humana, denunciando que, a partir dela, sempre transitamos entre dimensões, unindo o que acreditamos estar separado. E mesmo vivenciando, intuitiva e naturalmente, muitas experiências mediúnicas, isso não nos impediu de considerá-las como algo estranho, sobrenatural, exclusivo ou maligno. Se nossa natureza primeira é a espiritual, e a partir desse pressuposto se manifesta a capacidade de transcender as nossas percepções além do corpo físico e da realidade material, por que ainda temos tanta dificuldade de vivenciar a mediunidade em toda a sua exuberância? Com todos os avanços neste sentido, vivenciamos ainda uma profunda resistência, alimentada por crenças limitantes e dogmas institucionais, não só na Religião com também na Ciência. Ainda assim, o fenômeno mediúnico continua a se manifestar, denunciando a Consciência em expansão, anunciando o despertar inexorável. A cada Consciência desperta, muitas janelas se abrem para a Aurora Consurgens, para o despertar do Espírito, e a mediunidade também nos aquece e ilumina com seus raios de luz, libertando nossas percepções e ampliando nosso entendimento sobre o que somos e sobre nosso papel na própria existência.
Estamos diante de vários avanços científicos sobre a matéria e a mente, que vêm possibilitando novas descobertas, as quais têm promovido uma reaproximação entre Ciência e Espiritualidade, com repercussão e abertura nas duas áreas de estudo. O avanço dos estudos e das descobertas sobre a matéria, a partir da Mecânica Quântica e da inclusão de disciplinas e interações sobre espiritualidade nos estudos em Psicologia e Psiquiatria, revelam uma
interseção. A matéria e a mente se mostram mais complexas e interligadas do que já era considerado verdadeiro pela Ciência, exigindo novos conceitos. O interesse sobre os estudos que apontam para a permanência de uma consciência extracorpórea, não mais entendida como um fenômeno isolado da subjetividade da mente, mas como um EU contínuo que resiste a morte ou quase morte do corpo físico, nos remete à importância do papel da mediunidade nestes avanços. Quando pudermos exercer o mediúnico, cada vez mais conscientes sobre nossas capacidades e a elas integrados, o materialismo e a visão limitada sobre a vida cederão, gradativamente, o lugar de determinantes da experiência humana ao Espírito e a seu poder pessoal, que, autodeterminado, revela-se, assumindo-se como força criadora em continuidade.