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Ciência e Espiritualidade

A continuidade do eu dentro do paradigma “ciência x espiritualidade”

Carlos Dória

A ideia de que Ciência e Espiritualidade estão em lados completamente opostos é uma visão simplista e notadamente equivocada. Em primeiro lugar, é importante reconhecer que esta relação é complexa e diversa, variando ao longo da história e entre diferentes culturas e tradições. Em segundo lugar, ambas são formas de conhecimento humano que buscam compreender o mundo e o lugar da humanidade nele, oferecendo perspectivas distintas sobre a noção de continuidade do Eu para o Espírito imortal.
No século XIX, a partir do Espiritismo, codificado por Allan Kardec, uma visão nova e singular sobre a imortalidade do Espírito ganhou destaque, baseada em princípios científicos e filosóficos. Lembremo-nos que, até aquela época, a religião era geralmente entendida como um sistema composto por dogmas, rituais, hierarquia clerical e templos. A estreante Doutrina Espírita não se encaixava nesse modelo, pois suas ideias baseavam-se em observações e evidências, não na fé cega. Não prescrevia liturgias específicas, missas ou sacrifícios. Também não possuía líderes ou autoridades supremas, apenas estudiosos e divulgadores. Finalmente, não necessitava de igrejas, e suas reuniões podiam acontecer em qualquer lugar.
Kardec era um estudioso rigoroso que, obstinadamente, agia de maneira a fundamentar seu trabalho nos métodos científicos vigentes em sua época, integrando conhecimentos de diversas áreas como filosofia, psicologia, ciências naturais e, embora não considerasse o Espiritismo uma religião, reconhecia seu caráter filosófico. Através da realização de diversos experimentos e da coleta dos relatos fornecidos nas comunicações mediúnicas com variados espíritos, pode embasar suas conclusões, que tinham, por foco central, o aprimoramento moral e a evolução espiritual do indivíduo, não uma mera salvação negociada com um Deus superior e passional. Além disso, buscava distinguir sua nova doutrina do misticismo patente, que se baseava apenas em percepções subjetivas e revelações ditas inquestionáveis e que não admitiam, sob quaisquer hipóteses, métodos de investigação mais aprofundados.
E hoje, em pleno século XXI, período marcado por avanços científicos e tecnológicos sem precedentes, como a Ciência e a Espiritualidade podem contribuir para o aprofundamento da compreensão da continuidade do Eu?
As novas perspectivas científicas nos oferecem campos de experimentação nunca antes imaginados. Temos a Neurociência que, através do estudo anatômico e funcional do cérebro, permite um melhor entendimento do que seria a mente e, assim, lançar luz sobre a natureza do Espírito e sua relação com o corpo físico. A Mecânica Quântica, com seus conceitos de superposição e entrelaçamento das partículas, propondo novas perspectivas sobre a multidimensionalidade do universo. Finalmente, a Inteligência Artificial, engatinhando ainda, mas cujo desenvolvimento abre infinitas possibilidades de auxílio à compreensão da natureza da inteligência humana e da consciência, descortinando um caminho para a construção de novas concepções à cerca da imortalidade do Espírito.
No campo dos relacionamentos interpessoais, o ganho é inegável, principalmente pelo maior acesso à informação via internet e mídias sociais. Crescem as possibilidades de diálogo e debate. Pelo contato com variadas filosofias e crenças, ampliam-se noções de diversidade cultural e religiosa, ao mesmo tempo que se enriquece a visão da imortalidade pela descoberta da multiplicidade de perspectivas sobre a vida após a morte nos povos do nosso planeta.
Em suma, o século XXI oferece um terreno fértil para o aprofundamento dos aprendizados sobre a questão da continuidade do Eu. Convém ressaltar, entretanto, ser este um tema ainda bastante complexo e multifacetado, por isso mesmo, só através da convergência entre os avanços tecnológicos, a expansão da consciência humana e a integração da ciência com a espiritualidade, será possível alcançar uma abordagem holística, posto que, de outra forma, jamais se superarão tais dicotomias, nem se atingirá uma visão completa e abrangente dessa realidade fundamental:
– Somos Espíritos Imortais!

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