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Amor uma tendência arquetípica?

Jeisa Crusoé 

Você, caro leitor, o que sente ao ler esta pergunta-título? Sugiro que, antes de continuar a leitura, procure perceber o que você sente, quais histórias este título evoca em sua memória… Ao pensar o que poderia trazer para esta coluna, fui tomada por um sentimento; o Amor fluía em todas as direções, abraçando minha história, que também teve momentos de dor. Aliás, é como nos diz a canção – “pra que rimar amor e dor” –, pois que, abraçar o que nos afeta, ainda que sejam sentimentos díspares, é o que nos torna inteiros.
O Amor é uma experiência fundamental da psique humana e atravessa épocas e culturas, manifestando-se de inúmeras formas. Para a Psicologia Analítica, a presença constante do amor na história da humanidade sugere que ele pode ser compreendido como uma tendência arquetípica, ou seja, um padrão universal (como tantos outros) que habita o inconsciente coletivo e estrutura a psique. Dentre os arquétipos, o amor ocupa um lugar importante, refletindo a necessidade intrínseca de conexão e união.
Adenáuer Novaes, na Psicoterapia do Espírito, traz o conceito de Tendências do Espírito, direcionando uma compreensão mais profunda e individualizada, na medida em que possibilita uma análise voltada para a pessoa. Para o autor, as tendências são modos de pensar, sentir e agir, percebidas de forma particularizada – como um traço de personalidade –, e que interferem nas escolhas e na qualidade das experiências que se vive. Neste caso, analisa-se onde e como o Amor se manifesta no campo pessoal.
Esta forma de análise sugere que o Amor seja compreendido como a força essencial da evolução do Espírito, na medida em que transcende o pessoal e o instintivo, tornando-se um movimento de expansão da consciência e uma força que impulsiona a existência. Dessa maneira, a experiência amorosa pode ser vista como um caminho para a transcendência, onde o ser humano vai depurando suas formas de amar, substituindo o desejo de posse pelo desejo de partilha, a dependência pela autonomia, o egoísmo pela entrega, e conectando-se não apenas consigo mesmo e com o outro, mas, também, com a totalidade da Vida.
Assim, o amor desempenha um papel importantíssimo no processo de tornar-se quem se é. Ele confronta você com sua sombra, com suas feridas e com suas expectativas irreais. O amadurecimento do amor é, em essência, um amadurecimento psíquico, no qual se aprende a amar sem dependência, sem cobranças e sem ilusões infundadas. Este movimento de amadurecimento reflete o próprio desenvolvimento do Espírito, ao acolher as diferenças internas e externas, aceitando a si e ao outro em suas complexidades.
Tomemos agora um exemplo para nossas reflexões: Jesus. Ao passar por aqui, Ele deixou muitas histórias para nos espelharmos e suas ações denunciavam uma preocupação em ensinar, típica de quem ama. Seus gestos e palavras traduziam leveza para o Espírito. Seus ensinamentos propiciam libertação a partir da consciência e entendimento do sentido e do significado da vida. O valor do ser humano era ressaltado quando trazia o perdão, o amor aos inimigos, a caridade, a doação de si e o quanto tudo isto nos leva a evoluir.
O Amor é o sentimento que nos aproxima do Divino, nos conecta com as forças superiores da Vida. Para tanto, faz-se necessária sua entrega, o Espírito em harmonia com seu Personagem, para que este atue na direção dos propósitos daquele. Ao dizer que se ama a Deus, se este Amor não se traduzir em ações que tornam o mundo melhor, terá algum sentido?
O Amor, como tendência arquetípica, se manifesta de forma multifacetada, acompanhando o desenvolvimento psíquico e espiritual do indivíduo. Ele é, simultaneamente, um chamado para o autoconhecimento, um espelho do inconsciente e uma energia de transformação.
Assim, na jornada do Espírito, aprende-se que amar é também um processo de evolução. O Amor é o que nos torna mais inteiros. E, com isto, podemos compreender o Amor não apenas como um arquétipo que estrutura nossa psique, mas como a própria essência da evolução do Espírito e a mola propulsora do Universo.
Que seja bem-vindo, o Amor, em toda sua excelência!

Canção: Mora na Filosofia. Autoria de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos.

 

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