Paulo de Tarso
“ Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”, um objeto qualquer lançado no campo da existência, sem propósito, nenhum sentido existencial. O apóstolo Paulo assim resumia a forma através da qual ele entendeu o que seria o amor ensinado por Cristo, ponto de mutação em sua vida às portas de Damasco.
Por certo é que Paulo, ao se referir ao amor, certamente não pensava nesta forma bruta de sensações, a qual também chamamos pelo mesmo nome. Paulo exultava a suprema excelência do amor. Mas, enfim, seria este amor paulino tão diferente do nosso modo de amar?
O amor é, por definição, um proteu de múltiplos significados, assumindo, em cada circunstância na qual esteja presente, aspectos diferenciados de manifestação. Inicialmente, chamamos de amor aquela sensação prazerosa e intensa que sentimos quando alguém, por cujos atributos fomos estimulados a ir além da mera relação fraternal, inicia conosco um ciclo de enamoramento, tornando-nos, reciprocamente, alvo das mudanças neuroquímicas produzidas nos cérebros dos, agora, amantes, envolvidos na inebriante alquimia de Eros. De outra forma, chamamos de amor aquela sensação envolvente que sentimos na presença de parentes e amigos pelos quais nutrimos especial afeição. Amor também pode ser a relação com coisas pelas quais se tem estima, como títulos, profissões, bens, times de futebol, espécies de comidas, só para citar as múltiplas maneiras e os múltiplos objetos dignos daquilo que chamamos amor. Por certo, não era a isto que Paulo se referia em sua carta aos Coríntios.
Para uma Corinto inebriada de sensações, Paulo apresentava uma noção nova de amor, sem forma, que não se envaidece, que não nutre inveja, que tudo vê, tudo espera, tudo suporta. E a pergunta permanece: “Que amor é esse?”.
Quando queremos analisar algo, seja o que for, devemos ir à sua essência. No caso do amor, sua essência se confunde com as próprias manifestações de Deus, na medida em que podemos percebê-lo na forma harmônica do Universo, na agregação das partículas, na dança perfeita das formas e dos elementos; em tudo, absolutamente em tudo, a natureza nos fala desse amor. O amor expressão divina, trazida por Lázaro em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ao afirmar que o Amor como Lei é a primeira palavra do alfabeto divino, não podendo ser confundido com o sentido vulgar do termo, mas entendido como um sol que concentra em seu ardente foco todas as aspirações sobre-humanas.
Dado que existem diferentes formas de amar, podemos considerá-las como estágios de amorosidade crescente e em evolução. Se não sabemos amar como Paulo nos convida, por certo um dia saberemos. Um amor sem troca, sem desejos e sem estímulos sensoriais. Quando nossa alma atingir o apogeu, tornando-se expressão da divina essência, por certo experimentará este amor, sendo toda ela luz, emanações de Deus sobre seus amados, e, aí, teremos alcançado a tão sonhada excelência do ato de amar.