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Ciência e Espiritualidade

Dois paradigmas a serem conquistados?

Autor: Diego Rabelo

É possível conciliar ciência e espiritualidade? Existem três respostas comuns para essa pergunta: (1) há quem considere que uma mentalidade espiritualista se basta, e a ciência é uma necessidade de quem ainda não despertou para os fenômenos metafísicos; (2) por outro lado, tem quem pense que a mentalidade científica se basta, e a espiritualidade é uma necessidade de quem ainda não foi capaz de acessar verdadeiramente como o universo funciona; (3) por fim, há que considere que tanto ciência como espiritualidade são importantes e que a interseção entre as duas é a melhor alternativa. Penso que há um caminho alternativo e utilizarei as próximas linhas para apresentar e argumentar o motivo pelo qual o considero uma escolha mais sábia.

Desde a origem da espécie humana que tentamos entender quais os mecanismos que explicam a forma como se dá a nossa interação com a matéria. A busca por essas respostas vem nos impulsionando e a ausência delas sempre nos incomodou muito (talvez, mais do que qualquer outra coisa). Para lidar com a tensão psíquica gerada pelo vazio insuportável dessa ausência de explicações sobre algo, tendemos a recorrer à experiência, à lógica, aos sentidos, dentre outras estratégias válidas, mas com o mesmo perfil subjetivo e de valorização de características individuais. Contudo, para ter êxito nessa busca externa pelo entendimento do universo e das propriedades da matéria, faz-se necessária uma estratégia que ofereça conhecimento generalizável (coletivo) de forma objetiva. Eis que entra em cena a ciência!

A mentalidade científica tem como base o ceticismo. Ser cético é ter a necessidade da demonstração empírica de um fenômeno, antes de considerá-lo verdadeiro. Através desse modelo de pensamento, tem sido possível diminuir consideravelmente a nossa ignorância sobre as leis que regem a matéria, e assim quebrar protocolos mentais preconceituosos. Tal avanço intelectual diminui a tensão causada pela falta de respostas e libera espaço mental para iniciar um processo de busca interna em que podemos oportunamente refletir sobre o que somos, de onde viemos, para onde vamos e qual o sentido da vida. Sendo assim, essa busca interna deve ser sentida, não racionalizada, e necessariamente precisa contemplar a subjetividade de cada indivíduo.

Tais formas de pensar foram e continuam sendo essenciais para a existência humana, porém claramente possuem natureza e aplicabilidades antagônicas. Cientistas realizam experimentos com o intuito de descartar hipóteses pouco plausíveis, obtendo assim conhecimento com aplicabilidade coletiva, generalizável. Nesse cenário, experiências subjetivas e individuais enviesam o olhar dos pesquisadores e pioram o potencial de interpretação do universo, o que caracterizaria um pensamento pseudocientífico. Em contrapartida, o valor da mentalidade espiritualista é individual e subjetivo, utilizar o método científico e sua capacidade de generalização nesse contexto tiraria a essência transcendente de quem sente a necessidade dessa busca interna.

Sendo assim, se as duas mentalidades favorecem experiências que facilitam a integração de habilidades essenciais para lidar com os desafios da existência, não vejo sentido em escolher uma em detrimento da outra e vejo menos sentido ainda na tentativa inútil de encontrar uma interseção entre as mentalidades científica e espiritualista, dado o fato de suas naturezas serem opostas. Em qualquer um desses casos. haverá algum tipo de prejuízo. A capacidade de transitar entre os dois paradigmas (científico e espiritualista) revela um sinal de amadurecimento.

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