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O Espírito quer matar o personagem que não lhe atende aos anseios

Autor: Fernando Santos

O paradigma Espírito e Personagem está pautado no olhar sobre si mesmo, através do qual o personagem é o elemento mortal, e o Espírito, imortal, nos concitando a integrar tanto a imortalidade quanto a impermanência como elementos estruturantes “do Ser”. Poder criticamente olhar e enxergar os próprios “passos” que levou o indivíduo a perceber sua alienação, aprisionado numa coletividade individualista, a cercear a individuação “do próprio Ser”. E de senhor de todas as coisas passa a se perceber uma marionete nesse mar de cobranças por ter que mudar, ter que ser assim ou assado, onde viceja a culpa, que tem alimentado o nosso “processo de ser” a milênios. Este é um dos maiores obstáculos a superar, pois se camufla das mais diversas formas, nos gerando angústia e mal-estar ao olhar e ao enxergar a si mesmo, por vezes levando a completa paralisia.

A condição de Espírito evolui desde os primórdios enquanto princípio espiritual, e, nesse fluxo, por vezes, o olhar crítico sobre si mesmo identifica atitudes, pensamentos e ideias como “algo inadequado”, e se esforça por modificá-los. Contudo alguns persistem, passando a atormentar a própria existência. Apresentados a novas proposições quanto ao contexto Espírito e Personagem, os participantes da ULE são instigados a sair da “zona de conforto das certezas”, levando a incômodos e inquietações, que se amplificam na hipótese de o Espírito poder vir a matar o Personagem, se percebe que o personagem está desperdiçando a jornada reencarnatória.

O Espírito, ao se perceber enquanto Personagem num “fluxo de vida inadequado”, quer dirigir o personagem a impor-lhe um modo de ser, por achar isso certo e aquilo errado, a ponto de não conseguindo, querer matar o personagem quando este não corresponde às expectativas do próprio Espírito. O Personagem é uma construção de identidade para essa encarnação, quando a ideia de o Espírito ser imortal não suplanta os sentimentos e as emoções quanto à mortalidade do Personagem, que é quem vive o aqui e o agora. Nesse paradoxo entre mortalidade e imortalidade, ao utilizar o senso crítico, defendendo a própria existência, a inquietação transforma-se em ação ao vislumbrar que a inaceitação do Espírito vem da ignorância ainda vigente a não abraçar que tudo que vem “ao Ser” traz em si uma necessidade de aprendizado, e de integração.

A autodeterminação supera a culpa, e, na incomoda inquietação, o Personagem sente a impermanência de todas as coisas, e de si enquanto personagem. E assume o imperativo de não ser uma marionete, mas um coparticipe a dialogar diretamente com o Espírito, consigo mesmo, sem se deixar confundir por falsos intermediários: anjos de guarda, mentores, deuses, etc… a se dispor a uma relação viva em que Espírito e Personagem passem a se respeitar, tornem-se parceiros. E percebe, então, o Espírito que o personagem é mortal e o ele, imortal, mas a expressar-se sempre em um personagem, assumindo a internalizar a impermanência e a tornar-se parceiro da trajetória evolutiva “do Ser”, agregando a si complexidade ao integrar habilidades e aptidões durante a experiência do viver seja ela qual for.

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