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Autor: Adenáuer Novaes

Estigma deriva da palavra latina stigma, que significa marca sobre a pele (tatuagem). Neste estudo, amplio o conceito para Marca Psíquica ou Imagem sociopsíquica. Isso implica em considerar como estigma certas situações em que o Espírito se situa na vida e que lhe provoca um viés na encarnação. Nesse sentido, todos temos estigmas, pois, em face das relações que estabelecemos em sociedade, nos colocamos ou nos situamos em diferentes contextos. Por esse motivo, ter um estigma não é, aqui, considerado algo negativo ou depreciativo. O estigma tem seu sentido pessoal e é um fator importante para a evolução do Espírito. Como a palavra também se referia à marca que os escravos recebiam pela condição em que foram inseridos na sociedade, o termo ganhou cunho negativo. Acresce, a esse entendimento, o seu uso no Cristianismo, referindo-se às marcas causadas pelos pregos nas mãos de Jesus Cristo, como sendo chagas ou estigmas dolorosos.

Estigma tem sido considerado vulgarmente como marca ou cicatriz provocada por algo, como uma ferida que gera algum desconforto, sofrimento ou discriminação. No cinema, em alguns filmes, é sinônimo de sinal injurioso, marcado nos ombros, na testa ou nos braços de criminosos, escravos e piratas desertores, utilizando-se de ferro em brasa. O intuito é ultrajar e desonrar seu portador, reduzindo-o, para sempre, a um pária ou alguém de caráter inferior.

No Ocidente, o hábito de tatuar o corpo, a partir da segunda metade do Século XX, pode ser visto como uma transição entre o estigma negativo e o positivo. A tatuagem voluntariamente aplicada, antes, em certas culturas, um símbolo discriminativo de distinção e pertencimento a um determinado grupo ou a defensores de certas ideias, passou a ser adereço estético, décadas depois, como uma demonstração de propriedade sobre o corpo. Cada vez mais se veem diferentes tatuagens, com um rico mosaico de estampas e significados próprios, emitindo representações da personalidade, ora do ego, ora do Self. As tatuagens representam diferentes complexos psicológicos que jazem no Inconsciente a espera de dissolução.

É comum o estigma ser caracterizado, externamente, como um problema moral, isto é, como se seu portador tivesse cometido algum delito. Ele próprio assim também pensa. É de se perguntar, por exemplo, o que fez um animal para nascer com um defeito físico? Seria consequência de alguma escolha contrária ao bem ou decorrente de alguma imoralidade? Se assim é com um animal, também pode ser com um ser humano. Deve-se considerar, também, que a crença pessoal, assimilada dos costumes sociais, pode promover o aparecimento de algum estigma sem que seu portador tenha cometido qualquer delito. Essa é a razão do caráter depreciativo associado à palavra estigma. Há uma grande exigência de “normalidade”, que tem considerado o estigma como um sinal depreciativo e indicador de condição inferior.

O estigma é um fator de diferenciação pessoal, normalmente não aceito, em face da exigência da sociedade em fazer com que todos se mostrem e se sintam iguais e moralmente perfeitos. Em realidade, essa é uma imposição absurda. Somos naturalmente diferentes, mas com direitos e deveres iguais.

Um estigma é uma marca diferencial, pois é singular para cada pessoa, e, por mais semelhante que possa parecer à de outro indivíduo, será sempre sentida de forma especial. O chamado estigma coletivo é uma generalização que se estabelece, cuja compreensão e dissolução devem ser tratadas individualmente por cada portador.

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